Uma crônica metalinguística

Marianafragaduarte
4 min readFeb 7, 2021

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Gosto dos detalhes e das introduções. Sempre que vou contar uma história para alguém, não chego entregando a informação principal. Prefiro ir narrando aos poucos, sem deixar nada de fora. Acho que essa é a minha forma de tentar trazer o interlocutor para dentro da história. Deixá-lo ciente de tudo que seja importante para que ele possa interpretar a situação. É por isso que a minha primeira publicação no Medium, não poderia ser outra a não ser sobre como eu vim parar aqui.

É difícil dizer com exatidão como tudo começou. Poderia dizer que foi quando ganhei o meu primeiro livro infantil ou quando os meus pais se conheceram. Ambos os acontecimentos foram cruciais para que eu estivesse aqui, escrevendo o meu primeiro texto.

Então, vou falar sobre a primeira vez que senti a necessidade de escrever. Foi quando eu tinha de cinco para seis anos. Li um texto em uma revista infantil e fiquei inquieta. Era sobre a briga de duas crianças por um brinquedo. Talvez por causa do meu signo de libra, característico pelo senso de justiça, senti a necessidade de escrever uma nova versão em que as duas personagens se entendiam. Após mostrar para os meus pais, recebi elogios. Nada melhor do que uma plateia aplaudindo para uma criança, não é mesmo?

Por isso, decidi escrever outro, ainda com cinco para seis anos de idade. Escrevi sobre uma funcionária de uma loja de brinquedos que caiu dentro de uma caixa e virou uma boneca. Lembro de ter detalhado a angústia da personagem por ter deixado a forma humana sem saber se conseguiria voltar ao normal. “Mas essa história não faz sentido”, disse a minha mãe apressada, depois que eu bati na porta do quarto dela, durante o horário de almoço, e insisti que lesse a história.

Não lembro de outros momentos que coloquei minha imaginação no papel, ainda criança. Mas lembro que adotei o hábito de criar histórias sem escrever e sem mostrar para alguém.

Em alguns momentos, imaginar histórias se tornou um refúgio. Um refúgio para o fim de uma infância e início de uma adolescência frustrada. Não sei bem como, mas em algum momento do caminho, eu me perdi. Talvez em alguma das histórias que tanto me dediquei a criar.

Foi assim por anos até que me encontrei da forma mais improvável. Quem diria que o esporte me faria reencontrar a escrita ? Foi assistindo futebol e noticiário esportivo que vi a pauta para uma nova história. Achei fascinante aquele negócio de ficar no gramado falando sobre um jogo. Era tão incrível que precisava virar história. E como de costume, comecei a imaginar a narrativa da Mariana que trabalhava com aquilo. Depois descobri que aquilo era realmente um profissão, se chamava jornalismo. Aos poucos fui criando um certo interesse, até que o coração passou a bater forte a cada vez que eu me imaginava naquele ofício. Foi assim, que em meio a tanto medo, aos quinze anos, eu decidi: “Vou ser jornalista”.

Dessa forma, eu me encontrei e desde então, não me perdi mais. É claro que em alguns momentos, até os meus 22 anos, eu flertei com o desvio. Mas eu sempre tinha um norte, que parecia inabalável. Mas para alcançá-lo, eu precisava me aperfeiçoar. Foi assim que decidi voltar a colocar as coisas no papel.

Só que tinha um problema. Eu até escrevia bons textos, não é atoa que colecionei notas acima de 920 na redação do ENEM. Mas durante muito tempo, achei que precisava seguir um molde. Pensava que tudo que fugia do padrão não era bom. Por isso, inicialmente produzi muito do mesmo e não dei tanta voz a minha essência. Isso perdurou por mais alguns anos. Entrei na faculdade de jornalismo e continuei com o texto travado, muito apegado a informação crua.

A sorte que conheci um professor que falava sobre jornalismo literário. Para ele, as matérias, com algumas exceções, precisam do seu traço de poesia. Com outro professor, aprendi que, quando se trata de comunicação, a gente nunca vai ter controle sobre o que o outro vai pensar. “Por isso, não tenham vergonha e não tentem agradar todo mundo, crianças, pois vocês nunca vão conseguir”, disse ele.

Fui desengessando a minha escrita. É claro que houve todo um processo de desconstrução, em meio a estágios e freelas no jornalismo. E hoje ofereço a vocês um texto prolixo, com excesso de caracteres. Talvez essa seja a minha forma de encontrar meu estilo. Sem filtro e sem amarras.

Não serei presunçosa de achar que assim vou conquistar o interesse dos leitores, mas saibam que vou conquistar a liberdade de escrever com o meu coração. Vou colocar nas palavras o tom cronista, com o qual enxergo as particularidades do mundo.

Aos leitores que, mesmo assim, decidirem se fidelizar a este perfil de crônicas, não prometo periodicidade, mas prometo sempre aparecer com boas reflexões, ideias e um universo de imaginações. Você vai conseguir se perder e eu também, como já me perdi, enquanto escrevia este texto.

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Marianafragaduarte

Mineira falante, da cabecinha cheia de imaginação. Jornaleira e escritora de notas de celular. Pra onde vai o que não cabe no peito, mas não se pode enviar ?