Porque é tão difícil ?

Marianafragaduarte
3 min readOct 16, 2022

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Eu queria muito escrever sobre a minha dor. Deus sabe como eu queria. O sentimento na gente as vezes é como moto em globo da morte. Se a gente não abre uma porta para sair, a moto fica dando voltas e voltas. E a cada volta, aumenta em velocidade e intensidade.

Eu queria que a minha escrita fosse essa porta pro lado de fora do meu corpo. Sempre soube que escrever era uma forma de aliviar o que eu estava sentindo. Mas as tentativas de escrever sobre o que eu sinto são muito dolorosas. É como se eu estivesse cutucando um machucado e viesse uma dor ainda mais forte do que a que sinto todos os dias.

Eu sempre me questiono, porque dói tanto? Porque é tão difícil superar algo que aconteceu há dois meses ? Eu paro e tento entender a minha dor. Uma atividade que aprendi com os meus cinco anos de terapia, mas que não se tornou mais fácil apesar do tempo de exercício.

A única coisa que eu queria era eliminar todas as memórias sobre o que aconteceu e voltar a ser livre. Livre desse sentimento que dominou o interior do meu corpo e me puxou para o fundo do poço. Um poço escuro, inundado de tristeza. Uma tristeza sufocante, desesperadora, que tira o ar, acelera o coração e modifica o tempo. Cada segundo parece vir a ser uma eternidade. Uma eternidade na luta por emergir.

Desde que tudo aconteceu, eu nunca conseguir escalar o poço e fincar os meus pés de volta à terra. E eu sinceramente não sei como fazer isso. Com muito esforço, eu consegui boiar na água em alguns momentos. Mas,na maiorias das vezes, tem algo sempre ali, me empurrando para baixo e mais embaixo. Pessoas que achei que me estenderiam a mão, mas foram pedras pesadas que me puxaram para as profundezas.

Eu só queria voltar a ser livre. Livre das pedras e da tristeza. Lembro, com olhos marejados, da Mariana criança. Que alegria inocente de quem amava brincar. De quem gostava de pintar o rosto de borboleta, fazer caretas, correr de um lado pro outro e pular levando os braços pra cima.

Olhando o reflexo da luz do sol no jardim daqui de casa, me questiono, como faz pra resgatar essa Mariana ? É tanta dor que eu nem sei mais quem eu sou.

Talvez me forçar a escrever sobre isso seja o caminho. Talvez analisar o que estou sentindo não seja cutucar um machucado. Talvez seja como quando colocamos um osso no lugar. Sentimos uma dor muito forte no momento, mas depois, um grande alívio.

O problema é que esses muitos “talvez” não formam uma resposta concreta e eu preciso muito de algo concreto para me apoiar agora. Mas podem ser uma hipótese inicial para um ponto de partida. Porque, no fundo, eu sei que a minha escrita é tudo que eu tenho hoje pra conseguir escalar esse poço.

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Marianafragaduarte

Mineira falante, da cabecinha cheia de imaginação. Jornaleira e escritora de notas de celular. Pra onde vai o que não cabe no peito, mas não se pode enviar ?