Tudo é rio

Marianafragaduarte
2 min readSep 11, 2022

--

Esses dias eu estava lendo “Tudo é Rio” e senti Carla Madeira conversando comigo. Não era Aurora suplicando força pra Dalva, era a escritora mineira se comunicando com o seu leitor da forma mais profunda. Ela disse: “Pede para dar conta. A gente passa a vida pelejando com o dilema de existir ou desistir, com o que é bom e o que é ruim, o certo e o errado, a morte e a vida. Essas coisas não se separam. O lugar que dói é o mesmo que sente arrepios. É no corpo, no amor e na liberdade de escolher as coisas que a gente fica inteiro ou despedaçado. Então, pede para a parte boa dar conta da parte ruim”.

Tudo é Rio fala predominantemente sobre dor. É a dor e o sofrimento escancarado como consequência. E sua escrita traduz pro verbo o que está nas entranhas de quem a lê. Ela fala sobre dor de uma forma tão honesta, humanizada e aberta, que se conecta com a dor do leitor. Mas isso não é ruim. Pelo contrário, dissipa. Parece que você sente todo aquele sofrimento irradiando. Primeiro ele se concentra no coração, na mente, e depois vai se espalhando pelo corpo, até sair pela pele e ser liberado para o universo.

Eu não sabia o tamanho do poder de se canalizar aquilo que não é palpável, mas tem a força de te puxar pro fundo do poço. Que deforma o rosto, afunda os olhos e estraçalha tudo por dentro. Mas Carla não só me mostrou, como ofereceu um aconchego em suas palavras. Eu repetia pra mim: “Vai, Mariana, pede pra dar conta! Pede! Pede pra parte boa dar conta da ruim. Pede pra parte boa transbordar”. Até porque a parte boa é realmente boa. Ela olha o mundo com carinho, com um olhar de quem vê muito mais do que está explícito. Um olhar de amor e felicidade nas pequenas coisas. Um olhar que a minha conterrânea mineira resgatou com as suas palavras.

--

--

Marianafragaduarte

Mineira falante, da cabecinha cheia de imaginação. Jornaleira e escritora de notas de celular. Pra onde vai o que não cabe no peito, mas não se pode enviar ?